Golpe do Pix: apresentador acusado de desviar R$ 400 mil de doações será julgado
Um assunto vem tomando força em Salvador (BA): Na próxima terça (18), a Justiça da Bahia começa a julgar o apresentador Marcelo Castro, comandante do Alô Juca, exibido na hora do almoço da TV Aratu, afiliada do SBT no Estado.
Marcelo é acusado de liderar uma organização criminosa, com 12 pessoas, que desviava doações feitas para pessoas pobres que precisavam de ajuda, entre 2022 e 2023. O fato, segundo a Justiça, acontecia quando Marcelo ainda era repórter do Balanço Geral, da Record.
O grupo teria se apropriado de R$ 407,1 mil, o equivalente a 75% dos R$ 543 mil doados pela audiência do programa em campanhas. Ainda de acordo com a investigação, R$ 146,2 mil teriam ficado com Castro, e R$ 145,7 mil teriam ficado com Jamerson Oliveira, ex-editor chefe do Balanço Geral e atualmente parceiro de Castro no Alô Juca.
O desvio, segundo a Justiça, acontecia da seguinte forma: o grupo arrecadava as doações e destinava às vítimas a menor parte do volume arrecadado por meio de chaves Pix exibidas na tela do programa da Record. As chaves não eram de quem, de fato, pedia ajuda, e sim de pessoas ligadas ao esquema.
Após cada programa, os valores arrecadados eram distribuídos a partir das contas que recepcionavam as doações, por seus respectivos titulares. Eles, ainda de acordo com a Justiça, seguiam as orientações dos líderes do grupo, que ficavam com a maior parte do dinheiro.
O caso só foi descoberto em março de 2023, após o jogador de futebol baiano Anderson Talisca decidir fazer uma doação de R$ 70 mil após assistir a uma reportagem. O valor seria doado à família do menino Guilherme, de 1 ano, que fazia um tratamento de câncer.
Em contato com Marcelo Castro, contudo, um assessor do jogador constou que o número do Pix repassado para doação não era o mesmo que apareceu na televisão durante a exibição da reportagem. Dias depois, a Record Bahia demitiu Marcelo Castro e Jamerson Oliveira. A criança mostrada na reportagem morreu semanas depois.
Ao menos uma pessoa já está presa pelo caso. Carlos Eduardo do Sacramento Marques Santiago de Jesus foi preso em dezembro do ano passado, sob acusação de que ele seria um dos operadores do esquema. De acordo com a polícia, ele era um dos titulares das contas correntes em que os valores eram depositados.
Na última sexta (14), um novo pedido de prisão preventiva: Gerson Santos Santana Júnior teria sido cooptado pelo esquema criminoso a fornecer dados de sua conta bancária e o número do Pix e ajudar nos desvios. Até o fechamento desta reportagem, ele seguia foragido.
A audiência de instrução e julgamento está marcada para a próxima terça-feira (18), no Fórum Criminal de Salvador. Procurado para falar sobre o assunto através de seu advogado, Marcus Rodrigues, Marcelo Castro e sua defesa disseram que não podem comentar o assunto.
“Volta por baixo”
Após a demissão, Marcelo Castro e Jamerson Oliveira criaram o site Alô Juca, que virou sucesso nas redes sociais. Com o êxito, foram contratados pela TV Aratu, afiliada do SBT na Bahia.
Desde abril do ano passado, o Alô Juca acirrou a briga pela audiência na faixa mais nobre da TV local no Brasil: a hora do almoço, entre 11h e 14h. Se antes de ir ao ar, o SBT brigava com a Band pela terceira colocação, o Alô Juca levou a TV Aratu a brigar pela liderança com Globo e Record, subindo de 3,9 para 7,2 o Ibope em sua faixa. É um crescimento de 85% em menos de um ano.
A grande questão é o seu conteúdo. Concorrentes dizem que Castro tem dado uma “volta por baixo”, uma piada com o termo “volta por cima”. Seu programa mistura casos policiais, imagens chocantes e polêmicas variadas. Por causa disso, tem sofrido críticas pelo baixo nível.
Marcelo também usa o programa para responder a seus algozes. No dia 9 de janeiro, ameaçou um jornalista da TV Bahia, afiliada da Globo em Salvador, por dar a informação de que policiais eram investigados por deixá-lo negociar com sequestradores em uma ação da polícia militar. Após o caso, a presença de Marcelo foi vetada pela PM da Bahia em situações do tipo.
Marcelo também já criticou abertamente José Eduardo, o Bocão, apresentador do Balanço Geral e com quem trabalhava até o caso do Pix explodir. Marcelo, inclusive, processou Bocão e a Record pela sua demissão. Outro alvo dele é o comandante da Polícia Militar da Bahia, coronel Nilton Régis Mascarenhas.
No início do mês, o Alô Juca exibiu uma cena de terror: mostrou um vídeo de dois traficantes “jogando futebol” com uma cabeça decepada, em um bairro periférico de Salvador. O caso foi denunciado ao Ministério Público da Bahia por telespectadores.